domingo, 26 de agosto de 2012

postagem 17

RATZEL e a antropogeografia
  O prussiano defendeu que a geografia deveria estudar a interação entre  homem e natureza, mediada por condições socioeconômicas
                             Silvia Lopes Raimundo
  Reconhecido como um dos sistematizadores da Geografia moderna, Friedrich Ratzel (1884-1904) foi o primeiro a apresentar, de maneira explícita, uma proposta geográfica dedicada à discussão dos problemas humanos. Além de espécie de arauto da Geografia humana, o interesse desse prussiano por diferentes áreas do conhecimento o levou a escrever obras que contribuíram para a formulação da Antrpologia a das Ciências Políticas.
  Aprendiz de farmacêutico, Ratzel contrariou a vontade familiar e tornou-se professor em duas importantes universidades da recém unificada Alemanha: Munique e Leipzig. Foi ainda no curso de farmácia, entre raízes e ervas medicinais, que o cuidadoso observador se aproximou das Cìências Naturais. Mais tarde, durante os estudos na universidade de Heidelberg, dedicou-se à Paleontologia, Mineração, Geologia, Zoologia e à compreensão das idéias de Charles Darwin (1809-1882) e Ernest Haeckel (1834-1919), chegando a publicar artigos de conteúdo evolucionista.
  Em Munique, ainda envolvido com as descobertas dos naturalistas, escreveu o primeiro volume de Antropologia: Fundamentos da aplicação da Geografia à História (1882) considerada, por muitos, a obra fundadora da Geografia Humana. Nela, Ratzel privilegiou a condição humana ao definir que a Geografia estudaria os efeitos recíprocos entre homem e natureza, mediados pelas condições econômicas e sociais. Ficou explicita sua concepção de que à Geografia caberia analisar as condições impostas pela natureza à História, a distribução das sociedades humanas sobre o globo, os deslocamentos e os movimentos migratórios, a colonização e a formação dos territórios.
Mudança para Leipzig
  Ratzel mudou-se para Leipzig em 1886 e lecionou na universidade local até a sua morte. Ali se aproximou cada cada vez mais da Filosofia, caminho para para elaboração dos fundamentos tanto da vertente humana quanto política da Geografia. Nesse período, escreveu os dois volumes complementares de As Raças Humanas (1886 e 1888); o segundo volume de Antropologia (1891); Geografia Política (1897); A Terra e a Vida (1901) e Sobre a Descrição da Natureza (1904).
  Em Geografia Política, tratou de questões como Estado, território, relações internacionais, fronteiras e guerras. A obra pode ser considerada básica para a formulação das doutrinas geopolíticas de Mackinder, Kjellen e Haushofer, influenciando até mesmo ideólogos dos governos militares da Argentina, Brasil e Chile.
  Tímido e com dificuldades de falar para grandes platéias, Ratzel entusiasmava-se em pequenos círculos. Toda sexta-feira à noite participava do Circuito de Leipzig, no qual discutia Filosofia com economistas, psícologos, teólogos e historiadores.
  Nesse clima, à moda do Chá Geográfico de Munique, com alguns amigos, criou a Tarde Geográfica: espaço em que estudantes e novos geógrafos, sem oportunidades na Associação Geográfica, podiam apresentar pesquisas e debater com outros profissionais.
Espaço vital
  Filho de uma família afinada à política de Bismarck - grande nome da unificação alemã -, Ratzel foi fiel a seus governantes, não somente pelo seu engajamento na guerra Franco-Prussiana, que o levou ao front da luta, como também pela criação de uma Geografia a serviço desse novo Estado-Nação. Ao partir do pressuposto de que toda sociedade manifesta necessidades de moradia e alimentação e, por isso, mantém forte relação com o solo e seus recursos disponíveis, o professor defendeu a idéia de que progresso resultaria da relação de equilibrio entte o território ocupado e suas potencialidades com as necessidades da sociedade que o domina. A busca do espaço vital justificaria o expansionismo que marcou o imperilaismo de Bismarck.
  Num claro retorno à teoria da nação, criada em contraposição à doutrina liberal dos iluministas franceses e fortemente baseada no romantismo de Fichte e Herder, Ratzel elegeu o ambiente escolar como locus para a disseminação de sentimentos pátrios. Daí sua preocupação com a Geografia escolar, a formação de professores para as escolas públicas e os temas e conteúdos a serem trabalhados em salas de aula.
  Apesar de não ter rompido com uma visão naturalizante do homem, o pensador protaganizou importante momento no processo de sistematização do pensamento geográfico. Interpretado e vulgarizado por leitores que ora reduziam sua obra às máximas determistas - segundo as quais o homem era visto como um produto do meio, ora como base pra as formulações mais pragmáticas da Geopolítica ou das críticas que animaram o ambiente acadêmico da França de Vidal de La Blanche -, Ratzel é leitura obrigatória para quem deseja compreender melhor a Geografia.

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