"Uma nova classe de pessoas deve surgir até 2050: a dos inúteis."
Com o avanço da inteligência artificial, Yuval Noah Harari, autor de "Sapiens", prevê que muitos profissionais não apenas ficarão desempregados, como também não serão mais empregáveis.
Em artigo publicado no The Guardian, intitulado O Significado da Vida em um Mundo sem Trabalho, o escritor comenta sobre uma nova classe de pessoas que deve surgir até 2050: a dos inúteis. "são pessoas que não serão apenas desempregadas, mas que não serão empregáveis", diz o historiador.
"A questão mais importante na economia do século 21 pode muito bem ser: o que devemos fazer com todas as pessoas supérfluas, uma vez que temos algoritmos não-conscientes altamente inteligentes que podem fazer quase tudo melhor que os humanos?"
"A maioria das crianças que atualmente aprendem na escola provavelmente será irrelevante quando chegar aos 40 anos".
De acordo com Harari, esse grupo poderá acabar sendo alimentado por um sistema de renda básica universal. A grande questão então será como manter esses indivíduos satisfeitos e ocupados. "As pessoas devem se envolver em atividades com algum propósito. Caso contrário, irão enlouquecer. Afinal, o que a classe inútil irá fazer o dia todo?
O professor sugere que os games de realidade virtual em 3D poderão ser uma das soluções e faz um paralelo com costumes antigos, que, segundo ele, teve propósito semelhante: "na verdade, essa é uma solução muito antiga. Por centenas de anos, bilhões de humanos encontraram significados em jogos de realidade virtual. No passado, chamávamos esses jogos de "religiões", afirma Harari.
O que é uma religião, se não um grande jogo de realidade virtual desempenhado por milhões de pessoas juntas? Religiões como Islã e Cristianismo inventam leis imaginárias, como "não comem carne de porco", "repita as mesmas preces um número determinado de vezes por dia", "não faça sexo com alguém do próprio gênero" e assim por diante. Essas leis existem apenas na imaginação humana. Nenhuma lei natural proíbe a homossexualidade ou a ingestão de porco. Muçulmanos e cristãos atravessam a vida tentando ganhar pontos em seu jogo de realidade virtual favorito. "Se você reza todos os dias, você obtém pontos. Se você esqueceu de orar, você perde pontos. Se, no final da sua vida, você ganhar pontos suficientes, depois de morrer você vai ao próximo nível do jogo (também conhecido como paraíso-céu)".
Mas a ideia de encontrar significado na vida com essa realidade alternativa não é exclusividade da religião, como explica o professor. "O consumismo também é um jogo de realidade virtual. Você ganha pontos por adquirir novos carros, comprar produtos de marcas caras e tirar férias fora do país. E, se você tem mais pontos que todos os outros, diz a si mesmo que ganhou o jogo".
Para o escritor, um exemplo de como funcionará o mundo pós-trabalho pode ser observado na sociedade israelense. Alguns judeus ultra ortodoxos não trabalham e passam a vida estudando escrituras sagradas e realizando rituais religiosos. Esses homens e suas famílias são mantidos pelo trabalho de suas esposas e subsídios governamentais. "Apesar desses homens serem pobres e nunca trabalharem, pesquisa após pesquisa eles relatam níveis de satisfação mais altos que qualquer outro setor da sociedade israelense", afirma Harari.
Segundo o professor, o significado da vida sempre foi uma história ficcional criado, por humanos, e o fim do trabalho não irá necessariamente significar o fim do propósito. Ao longo da história, muitos grupos encontraram sentido na vida mesmo sem trabalhar. O que não será diferente no mundo pós-trabalho, seja graças à realidade virtual gerada em computadores ou por religiões e ideologias. "Você realmente quer viver em um mundo no qual bilhões de pessoas estão imersas em fantasias, perseguindo metas de faz de conta e obedecendo as leis imaginárias? Goste ou não, esse já é o mundo em que vivemos há centenas de anos".
por: Yuval Noah Harari epocanegocios.globo.com asmetro.org.br