sábado, 25 de agosto de 2018

P. 46 Pigmaleão na Escola

PIGMALEÃO NA ESCOLA
"Cada aluno precisa acreditar que pode chegar lá."
"Pigmaleão, na mitologia grega, foi o rei da ilha de Chipre, que segundo Ovídio, poeta romano contemporâneo de Augusto, também era escultor e se apaixonou por uma estátua que esculpira ao tentar reproduzir a mulher ideal. Ele havia decidido viver em celibato na ilha por não concordar com a atitude libertina das mulheres dali, conhecidas como cortesãs". Que serviu de inspiração para o escritor George Bernard Shaw, escrever a versão moderna de sua peça teatral - Pigmaleão ou My Fair Lady.
NA CONHECIDA peça teatral de Bernard Shaw, o professor Higgins acredita que pode transformar Eliza. De uma humilde vendedora de flores, ela viraria uma lady britânica. Empreende sua reeducação para que perca as marcas de origem, o que inclui converter seu sotaque cockney no inglês da aristocracia. A expectativa de Higgins acaba moldando uma nova Eliza.
Lá pelos anos 1960, o pesquisador americano Robert Rosenthal constrói, em uma escola, um experimento interessante. Os professores são informados dos resultados dos testes de inteligência de seus alunos e recebem uma lista com 20% que se destacaram por ter QI mais alto. No fim do semestre, confrontando-se as notas obtidas no curso, verificou-se que havia uma forte correlação entre as melhores marcas e os alunos com QI mais elevado indicado na lista. Não era isso mesmo que se esperava?
Havia uma pegadinha, porém. Os nomes dos alunos e os valores do QI haviam sido embaralhados. Ou seja, as notas altas estavam associadas a alunos falsamente apontados como de elevado QI!
Só havia uma explicação possível: as expectativas dos professores, conhecedores dos (falsos) QIs, haviam influenciado a maneira de tratar os alunos, gerando os resultados obtidos. Aqueles que eles imaginavam ser mais inteligentes eram tratados como tal. Aos mais "burrinhos", pouca atenção davam. Em outras palavras, as notas eram mais influenciadas pela percepção e pelo tratamento dos professores do que pela tal inteligência dos alunos. Apropriadamente, o artigo consagrou o termo "efeito Pigmaleão". Rosenthal foi percursor dos estudos que demonstram a força das atitudes, valores e expectativas (hoje chamadas de socioemocionais) no desempenho dos estudantes.
De fato, os professores tendem a tratar os alunos de acordo com a percepção do potencial que eles têm. Quanto mais eles esperam do aluno, mais forte tende a ser o rendimento escolar resultante. E vice-versa. Para combater tal profecia autorreferenciada, foram criados cursos que buscam alertar os professores e vaciná-los contra um tratamento diferenciado, resultante de suas percepções.
Batendo na mesma tecla, algumas escolas bem-sucedidas têm como mandamento rígido esperar muito de todos os alunos. As ambições devem ser altas para cada um deles, sem exceção. Cada aluno precisa acreditar que pode chegar lá. Não se aceitam resultados fracos ou mornos. As escolas do Extremo Oriente têm uma estratégia muito drástica para lidar com esse tema. Postulam que o resultado individual depende esforço e dedicação, descartando-se a crença em um potencial intrínseco como razão para melhores resultados. É o afinco que conta. O Pisa desses países confirma sua vitória sobre o efeito Pigmaleão.
Entre as muitas falhas na formação de nossos professores, a ausência de uma percepção clara acerca dessa profecia das expectativas é mais uma delas. Assim, milhões de alunos são condenados quando os mestres acreditam que têm fraco potencial. Não há como negar a abundância se desvantagens exibidas pelos alunos de classe social mais modesta já ao chegar à escola. Mas submetê-los adicionalmente ao efeito Pigmaleão é uma penalização evitável.
       Claudio de Moura Castro - Revista Veja - 2.018.


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

P. 45 Aprender Geografia

APRENDER GEOGRAFIA
Estudar, aprender ou conhecer geografia é algo que você com certeza já fez quando ainda criança, começou à perceber a paisagem que o rodeava.
Observar as nuvens, as estrelas, as montanhas, os rios, o mar, reconhecer a rua que mora, diferenciar algumas árvores das outras, perceber que o trânsito torna-se mais complicado em certas horas, sentir que a população aumentou, relacionar as variações do tempo com as estações do ano, etc. Tudo isso é sem dúvida aprender geografia.
A diferença entre o que você fez até agora e o que fará durante o período escolar é que você começará a estudar a paisagem de uma forma mais organizada, estabelecendo relações entre os fenômenos, buscando as causas que os produziram e, principalmente analisando as suas consequências.
Antes a intensão era apenas reconhecer a paisagem. Agora o objetivo é entender a mesma paisagem através de uma postura científica utilizando as ferramentas que a geografia nos dá: os conceitos corretos, as definições precisas e determinadas formas de análise.
Esse processo de conhecimento na escola vai se prolongar por toda vida escolar e continuará mais além, pois como cidadão, você deverá conhecer a realidade para poder participar ativamente do desenvolvimento de toda a sociedade.
A geografia é uma ciência de síntese?
Sim, pois "ciência é o processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza com o objetivo de entende-la e domina-la em seu benefício." E "geografia é a ciência que estuda as relações existentes entre o homem e o meio, ou seja, todas inter-relações que ocorrem entre o ser humano e o quadro natural que o cerca."
E de síntese porque ao estudar a paisagem, a geografia vale-se dos resultados e dos métodos de outras ciências. Isso significa que, para chegar as suas conclusões a geografia utiliza-se dos conhecimentos das ciências exatas como física e química; das ciências humanas como história e a sociologia e também das ciências políticas como a geopolítica.
A geografia é então uma ciência de síntese, pois baseia-se nas informações de várias outras ciências para analisar o homem, agente social do espaço.
É importante lembrar que a geografia tem como meio de expressão os mapas. A cartografia é a linguagem dos geógrafos, mas não se pode esquecer que ela é utilizada cada vez mais, por profissionais de outras áreas.
A geografia e o poder
O conhecimento da geografia sempre foi utilizado para atender a determinados interesses econômicos e políticos, principalmente de grupos dominantes: empresas e governos de países ricos ou grupos que compõem a elite de países pobres.
A geografia pode tanto ser usada como meio de dominação de um país sobre outros como pode servir de libertação de um povo.
Conhecer a geografia do inimigo permite que se tenha ideia da capacidade econômica: quanto recursos naturais, como potência hidráulica, ocorrência de combustíveis fósseis, presença de minérios, solos férteis; e características demográficas: como natalidade, a participação percentual de jovens, adultos e idosos no conjunto da população.
Estudando-se a geografia de um país é possível, em caso de guerra, detectar seus pontos fracos: onde seria mais fácil iniciar uma invasão? De que forma impedir a chegada de alimentos para a população?
Aliás em situação de guerra a geografia adquire grande importância. Como conhecer a melhor arma para o confronto; o melhor lugar para o ataque e o melhor momento para a invasão.
Formas de ensino da geografia
Tradicional X Crítica
Geografia tradicional: parte do esquema "a Terra e o homem". O meio físico (relevo, clima, vegetação, solo, hidrografia...) vem sempre antes do homem e a sociedade.
Foi importante para o estudo das sociedades pré-industriais, mas é inadequada para a compreensão da sociedade industrial e urbana do nosso presente. Em que produzia estudos descritivos, em que o mais importante é a memorização.
Geografia crítica é uma forma de ensino da geografia partindo da sociedade (homem). Enfatiza as modificações que a ação humana promove na natureza a partir dos interesses e das contradições sociais. É uma geografia explicativa e não descritiva voltada para a compreensão da realidade dinâmica e complexa dos nossos dias. Com bastante ênfase aos aspectos: políticos, econômicos, sociais, culturais e também ambientais.
   Coletâneas de textos de alguns importantes livros didáticos para aula de apresentação.