sexta-feira, 14 de novembro de 2014

P.36 Ódio, racismo e voto

Ódio, racismo e voto
  Na reta final da campanha, com a presidente Dilma sempre à frente nas pesquisas, muitos eleitores de Aécio Neves perderam a compostura, assumiram publicamente seus valores racistas e foram para as redes sociais e canais de televisão culpar o povo nordestino pela iminente derrota de seu candidato.
  Após a confirmação da vitória da presidenta, a campanha difamatória alcançou uma dimensão estrondosa e o ódio prevaleceu sobre a razão. Adjetivos como miseráveis, imbecis, burros, analfabetos, trouxas, bovinos (este último, uma pérola trazida por Diogo Mainard, jornalista da revista 'veja', que destilou todo o seu ódio em entrevista à Globo News!) pipocaram por todos os lados.
  Ataques sórdidos e explícitos disfarçados de desabafos nas redes sociais, em mensagens de vídeo e texto, inundaram a internet e ofenderam os nordestinos, tidos como os responsáveis pela reeleição da presidenta.
  Muitos internautas defenderam movimentos separatistas e a construção de um muro para isolar o Nordeste brasileiro. A raiva gerou discursos golpistas que pediram o impeachment da presidenta e a volta dos militares.
  Alguns veículos de comunicação já vinham induzindo a opinião pública a uma postura crítica em relação aos votos dos nordestinos como cartada final de uma trama de "ajudar" a classe média do Sul/Sudeste a votar em Aécio Neves, fazer frente aos votos dos 'pobres' e 'analfabetos' do Norte/Nordeste e trazer de volta ao poder o grupo de ressentidos que, até a eleição de Lula, sempre reinou no Brasil.
  Após o primeiro turno, o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso colocou lenha na fogueira do preconceito em entrevista ao portal UOL acusando os eleitores da presidenta de ser "mal informados" e residentes "nos grotões". Ele quis dizer o seguinte: nossas escolhas são melhores porque somos superiores.
  Nem bem havia sido proclamado o resultado final das eleições e caíram as mascaras dos 'esclarecidos', 'escolarizados' e 'bem empregados' que não precisam de 'esmola' do Bolsa Família. Desceram o sarrafo à moda da família Bolsonaro.
  Mas, de acordo com a lei do racismo (Lei nº 7.716/89), qualquer tipo de preconceito, insinuação de cunho discriminatório para tentar diminuir, pôr em uma situação desigual ou ofender determinado grupo pode ser considerado crime.
  A pena pode variar de um a três anos de prisão, além de multa, podendo ser agravada por ser em ambiente virtual, pelo maior alcance que as agressões podem gerar.
  Mais de 400 denúncias já foram encaminhadas à SaferNet, organização que acompanha os crimes virtuais. Estas páginas com conteúdo preconceituoso já estão à disposição do Ministério Público e da Polícia Federal, que poderão abrir inquérito.
  Alguns eleitores gostariam que seu voto tivesse mais peso, afinal, sentem-se superiores, mas, na democracia, o voto de cada brasileiro tem o mesmo valor.
  Por isso, diga não ao preconceito. Diga não ao racismo. E que prevaleçam o bom senso e o respeito entre todos.
                       cacau de Brito (advogado e presidente do Movimento O Rio Pede Paz) - ARTIGOS - jornal O DIA - 13/11/2014.